terça-feira, 8 de abril de 2014

Endgame - um larp pesado


Recentemente participei do jogo Endgame. Realizdo pelo LabLarp por Jonny Garcia.

O jogo foi interessante, com uma produção visual minimalista.

Neste post estou contando a experiência do jogo, caso você ainda vá jogar, não leia.


Eu era um médico, e bem ruim, ou cheio de problemas emocionais. Minha única missão era matar Mr. Wilcox, um personagem que era um pai pra mim, o jogador um amigo. A minha única preocupação era esconder a arma do crime. e engraçado eu estava segurando com uma das mãos a arma, ninguem viu no jogo. Mas como a zarabatana era na verdade apenas um tubo com uma letra pequena escrita ZARABATANA, ninguem pôde ver ou realmente entender. O fato de o cano representar a arma talvez seja interessante se for pensar que a confusão do cano fosse proposital. Mas assim que fosse propositalmente colocado, maioria dos jogadores passarem reto e o cano rolou para fora da mesa e colocou, foi necessário o "garçom" (narrador) apontasse a função do cano. A representação visual no jogo necessitava talvez de uma melhoria no cano, ou talvez fosse proposital, não sei.

O jogo tratava de duas coisas conflito, e drama. O figurino estava impecável, o ruído visual foi minimizado através de panos, e havia poucos coisas como um jarro de veneno e a zarabata que tinham uma representabilidade menor. Estética, objetos reais representando objetos virtuais, era necessário perguntar ao garçom o que representava, ou achar onde estivesse escrito.

Todos os bebes eram não alcoólicos, mas dentro do jogo eram.


Depois que Matei senhor Wilcox, o jogador tomou o papel de Detetive, cujo nome não me retorna. Uma parte importante disso foi a proposta única para um ou outro personagem. O detetive tinha o jogo de descobrir quem lhe matou. Bem que quase no final eu ia chegar e contar a verdade, e pedir pra levar as pessoas pro hospital e socorrê-las, mas o jogo terminou bem no momento antes de eu agir.

Wilcox incomodando maioria das pessoas. Wil coks ha!

Um jogador tinha a proposta de envenenar todos, outro era um espião que queria roubar projetos, outro era um industrial que so iria morrer, um era um rico que queria fechar um negócio, um era um escritor, que queria que alguem tomasse o lugar de Wilcox para lhe pagar o que era devido, uma queria a fortuna de Wilcox, e a última não parecia querer nada de mais.

Conversando posteriormente com uma colega Bia Mazzaropi, chegamos na possíveis hipóteses.
Os personagens eram limitantes propositalmente, e o design concisso. Mas e se alguma vez, objetivos não estivessem totalmente delimitados, ou fosse realmente adicionado de alguma forma o repertório de um jogador sobre alguma coisa sem estragar a surpresa.



Como por exemplo, eu era um médico que não conseguia tratar as pessoas direito de intoxicação alimentar. Estava óbvio a utilização de veneno, mas eu só sabia um método, na verdade como médico eu deveria é saber de algo chamado Carvão ativado, usado em alguns casos. Mas só lembrei agora disso. 

Parecia que os personagens não eram completos, porque quando você se torna algo, você se torna capaz de fazer algo com essa nova máscara. Mas maioria dos personagens não possibilitam um vocábulário de formas de agência diferentes, ou inusitadas, eu não sabia tratar direito as pessoas. Eu ficava mais no meu canto, não pensava que podia ficar tratando das pessoas, ou outra coisa, talvez muito pelo contrário, eu estivesse nem aí, mas quem sabe não pareceu que eu realmente não fosse mais o personagem proposto pra mim, eu não "respeitei" a parte que dizia que não gostava de ver pessoas sofrendo, eu somente não me importava.



Talvez, se ninguém soubesse quem fora o assassino, ou quem sabe se estivesse escrito no papel do personagem, "talvez você seja o assassino", as pessoas ficassem mais confusas e com maior receio. Mas mesmo assim senti algo forte no jogo.



Primeiro, a tensão e o nervosismo. Fingir a normalidade, esconder a zarabatana no colete, não deixar ninguem descobrir nada. Cadê o momento? Ele não sabe que somos amigos dentro do personagem? Preocupação, não vou jogar poquer por causa das mãos. Hmm, comida e guaraná.



Uma pessoa querendo conversar, alguma coisa pra fazer. Segredos? Não tenho nada, sou totalmente ignorante. Opa, alguem passando mal, posso brincar de médico, ok relaxa, respira, e pensa o que vai fazer. Luzes, câmera ação. Coloquei a zarabatana na mesa e volto pra longe dela.

Agora entrava a parte de entrar realmente no personagem, o corpo morto, o cara caído, nada pra se fazer, tudo chegando em cima de mim, preso, sem fazer nada, um momento eterno, com as pessoas berrando ao meu redor, e eu lá, preso com a culpa. Matei alguém, o mundo e a consciência se fechando, eu tinha matado, era algo inevitável, eu não podia ter fugido, escolha era patética, só eu e as vozes. Me recolhi ao canto minúsculo meu, me curvei, o peso de perceber o fato. Vozes, e mais vozes, nada pra fazer, só ficar me remoendo, no ato que vim fazer, e que acabei fazer. Eu tinha de aceitar, lutar contra isso, só ouvir os rumores e ficar no meu canto. Pra que pensar, não tinha nada pra se fazer.

Assisti recente o documentário Ato de Matar, talvez o filme mais pesado da minha vida. Recomendo a todo jogador que for fazer o médico assistir esse filme. Engraçado que parecia como eu já tentasse me colocar de uma forma mais tangível. Assassinos já existiram nesse mundo, e alguns médicos sempre foram, ou tiveram que ser, fazer o que.

Foi aí que percebi o que estava acontecendo, a morte me perseguia, ela era minha esposa. Eu não era burro, eu era mais sagaz, um médico, alguém que entendia como as pessoas sofriam morriam. Mas eu não gosto de ver pessoas sofrendo, e no meu lado, vários Wilcox me encarando, com seus câncers e tumores, tudo se desabando. Parece uam composição re Ruth White, o ruído eletroacústico, sendo acompanhado de uma estridente sinfonia digital corrompida pelo tempo. Os Wilcox morriam, e eu, talvez quizesse matar mais, mas gostava de salvar, a culpa me corroia, ver as pessoas sofrendo me lembrava da cara dele.

Um pequeno detalhe, quando o corpo caiu, não olhei pro rosto, só pras pessoas. Eu seria o único assassino, e sei lá o que um fraco, tinha jeitos melhores, o detetive matava a gente lentamente, se pudesse atirar, seria apenas um, e depois quem ficasse na frente da porta. Eu não me importava com o passado, mas só com o futuro.

As paredes gritavam, a minha cabeça remoía, e o veneno saía com os vômitos. Eu não queria saber de mais nada, só tinha morte em todo canto. O que será será, e as pessoas que morram em seus leitos.

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A minha experiência foi totalmente subjetiva, e psicológica, parecia que forçava a culpa. Interessante a proposta, senti um arrependimento e um nervosismo diferente do normal, era um stress que me tentava fazer pular pro pescoço das pessoas, ou era só pra me fazer mover.


Teorias sociológicas definem que um grupo é formado de vários tipos de pessoas. Um grupo saudável, tende a ter uam composição variada, onde grupos se formam dentro dos grupos. Eu era o médico, responsável de cuidar das pessoas, quem sabe o jogo foi pensado assim. Mas quando o médico é tambêm o assassino, deve ter algo muito errado com todos.

Ótimo jogo, adorei! E adoraria jogá-lo novamente, caso seja uma forma experimental com mudanças, jogar a mesma experiência acaba com a forma de arte.

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